sábado, 30 de abril de 2016

Entre lençóis e escotilhas

   

     Tantas diferenças nos revelam iguais. Quanto mais distantes, mais próximos. Se somos mais óbvios mais obtusos. Seguimos assim penetrando lençóis e escapando por escotilhas.
        Cenas inventadas dentro de uma realidade friamente calculada - os olhos sem ver saídas - apenas entradas escapatórias.
     O toque suave do que nos cobre e a brutalidade ferrenha do que nos escapa, rasgando-se a delicadeza.
         Nada equivalente, todo espedaçado é o quadro da vida, pintado pelo sopro do acaso.
      Lenços imensos,  cobrindo desalinhos, formas amassadas contra a gravidade, enquanto leves tecidos sopram os varais.
     Sejamos livres, fazendo asas em tecituras  e colocando o controverso para o fundo do mar, conferindo-nos os paradoxos, como temperos a iguaria de viver.
        Complexos opostos que dão sentido ao nosso caminhar... 
 

Apoética




As palavras colam no céu da boca 
guardam-se em gavetas
escondem-se da leitura

Cala-se a poesia
envergonhada do mundo
prefere a liberdade do não...
no silêncio, 
os sentidos pulsam,
gritam...

A falta diz mais que a presença

As palavras nesse outono
secam e partem ao vento
para brotarem mais forte
em alguma outra estação



domingo, 10 de abril de 2016

Onde é o céu da tua boca?


Porque o mal é o que sai da boca...



A tua boca
não fala nem beija
ela  não é louca
é só uma boca
que a saliva despeja


O que tua boca-oca
deseja?

Dentro dela chove
e faltam palavras
então relampeja

e quando fica sêca
sem esperança
ela só pragueja