quarta-feira, 13 de julho de 2016

Adeus azulado

Parte da partida
é chegada
metade da metade
fica faltando pedaço

Amigo que vai
é um irmão
que cai no álbum de retratos

"Manuel foi pro céu"
num dia de teto azul



terça-feira, 12 de julho de 2016

Metade de mil


Podia rimar tempos e ventos
não há ritmo às palavras
fluídas, fugazes e sólidas
na surrealice  etérea
desse consciente-abstrato

Sopra aqui há alguns versos
sonetos com chaves de alumínio
epopéias ventinescas
quixotes carnavalescos
dulcinéias em moinhos tácitos

 A impermanente certeza
corrói na ventilhagem
perfis e cílios postiços
engomados de expectativas

Castrada toda falta de liberdade
e o vento segue soprando a areia
tênue entre a  forma e reforma
contrato com a desnecessidade
do limite derrubador de pensamentos

Pouca poesia pra muito vento:
metade de mim.
Mais que trezentos e cinquenta, Mário!
Sou Quinhetos.



quinta-feira, 7 de julho de 2016

Alegria





Era um sorriso espelhado,
nas águas daquele lugar,
que escorria iluminado
até as ondas do mar.

Um dia ficou cinzento
ninguém sabia explicar
e naquele momento
tudo parou de brilhar.

Descobriu-se nas correntes
das águas que ali viviam
o choro dos afluentes
que lentamente morriam

Aconteceu a chuvarada
daquelas que limpam o ar
as aves em revoada
começaram a cantar

Um clarão naquela dia
cobriu toda a paisagem
o sorriso das águas corria
oloruns davam passagem

Toda o povo mergulhou
olhos, mãos, pensamento
o sol brilhou de alegria
sorriram as flores ao vento




quarta-feira, 6 de julho de 2016

Segue o vento




A liberdade do vento
sopra esse outono,
varrendo árvores
e tudo que não serve,
pra nunca mais voltar.

Parte em folhas secas
o que fomos, tivemos
e jamais terminamos
num pretérito imperfeito
que não cansa de existir.

Prossegue na linha
atemporal essa inconstância
filha dos de-sìgnos avassaladores
poesia azeda e doce
gosto de infância melada
e machucada em dores.

O instrumento natural
dessa estação atua
tocando a frente muda
e indelicadamente  suave
a brisa atenta do recomeço.


terça-feira, 5 de julho de 2016

Passaporte para o infinito

                 Crônicas de viagem existem, desde que desbravar fronteiras tornou-se uma exigência aguda - ou existência para os que julgam mais profundamente esta questão. Li muitos textos sobre este assunto: Crônicas de viagem; Diário de Motocicleta; Comer, Amar e Rezar, além de clássicos como Viagens Setentrionais de Sterne, Cartas de Pero Vaz de Caminha, A Arte de Viajar, mas a melhor de todas as crônicas foi aquela que vivi em viagens, onde cada palavra foi experimentada à conta das aventuras de se arriscar inteira, entre fronteiras, para abraçar descobertas.
                 Durante anos fiquei sem viajar, por motivos vários, pequenos e grandes, no entanto após profundas viagens dentro de mim, entre dores e decisões, necessárias à sobrevivências vitais ao sentido de entender a essência de estarmos por aqui, resolvi "andar por aí". Acabei atravessando as linhas do horizonte corriqueiro e parti pra todos os lados e direções, tornei-me minha própria bússola. Foi assim que compreendi o peso e comprimento da liberdade de cada passo. 
                    Todas as viagens começam dentro de nós e qualquer uma delas tem como ponto de apoio o nosso desejo e como consequências nossas escolhas.
                     Por onde ir? Qual o melhor caminho? E se chover? Se nevar? Se o sol estiver derretendo os miolos? A resposta é: Siga em frente com determinação.   Afinal, parodiando Fernando Pessoa: viajar é preciso, viver não é preciso...