quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Dissonância




Domingo à tarde, tento encontrar referências da minha identidade, para continuar lutando, nestes tempos difíceis. Resolvo assistir um filme que aluguei, pois ainda vou à locadora(sou dessas...) . Desligo meu toca discos, silenciando Jane Joplin e começo a ver: As Sufragistas. Este longa trata de uma reivindicação histórica de mulheres pelo direito ao voto, na Inglaterra de 1912.
Eis, que quando ocorre a cena de uma enorme manifestação destas admiráveis mulheres de vanguarda, começa um enorme barulho embaixo da minha janela, que dá pra avenida principal do bairro que moro. No entanto, enquanto o filme quer democratizar o voto, na realidade da minha janela há um movimento a favor de um candidato perfilado como direita, autoritário, empoderado pelos empresários por querer contribuir contra os direitos adquiridos dos trabalhadores(as), que julga e desrespeita as mulheres inferiorizando-as, como acontece no filme. Assim de repente vejo movimentos paralelos e divergentes ocorrerem simultaneamente, diante dos meus olhos.
Dentro de mim cabe um silêncio de indignação tamanha, que fico paralisada com a obviedade da contramão da democracia regida por um grupo que invoca gritos das mulheres de que apoiam o candidato:
_ Cadê as mulheres ???? Convoca o locutor. Elas respondem orgulhosas por aquele que as despreza:
_ Ele sim!
Estarrecida continuo tentando dar conta do acontecimento, fico envergonhada, olhando para a luta das sufragistas.
Diz um ditado popular: Pior cego é aquele que não quer ver. Em tempos de óculos escuros, ver o sol pra que, não é mesmo? Enquanto observo as duas pontas do tempo: passado e presente, imaginando o que será do nosso futuro. É difícil sobreviver nesse barranco de cegos, quando se percebe o desmoronamento desenhar-se, sufocando e aterrando um passado de lutas democráticas, para o enaltecimento do autoritarismo sem limite, que permite a um candidato a presidência da república ofender gênero, etnia e a diversidade sem nenhuma intervenção jurídica, estimulando o ódio e a violência como oposição aos que pensam diferente e defendem os direitos humanos e a democracia.
O pior é que os apoiadores deste candidato auto intitulam-se patriotas, defensores da moral e dos bons costumes, considerando que são pessoas de bem, a favor ao armamento da população e desrespeito as minorias. Abrem mão da democracia, a fim de serem comandados.


terça-feira, 23 de outubro de 2018

Visitando o Bar Don Juan

Para Minha Eterna Professora

Livro...após livro, me livro
minhas mãos esbarram
nas páginas de Bar Don Juan
grito de um autor
chamado A. Callado
talvez por isso com dois ll....

com ele aprendi
canalizar minha revolta...
saber usar meus silêncios.

Não fosse uma voz consciente
dessa subliminar cidadania
jamais teria sentido a tortura
da resistência política
nunca a compreenderia...

Pena, a memória literária
a história vivida
ter a tecnologia e as campanhas
para apagar as marcas do tempo...