O vento que venta daqui é o mesmo que venta de lá? Não, eu sou controvento, ventania de esparramar, até virar brisa, desabotoar a camisa, para o sangue ventilar. Liquificar sem ar controvento suado, prá na liberdade do vento tocar, no sino, um dobrado e ventando poder voar, soando um verso molhado...
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domingo, 24 de fevereiro de 2013
Atrás da Porta
...não sabes nada
desse poético eu
nem do seu lirismo
com sua poesia Foto: Claudia Lemos
ele aprendeu
a sobreviver do cinismo...
sábado, 23 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
O silêncio fotográfico
Para Daniela Gama
A moldura das fotografias escondem o indizível. Não sai na imagem fotográfica a verdade, nem a mentira. Ela é só um momento registrado que esconde a linha do tempo. Embora revelada não revela os intramuros do olhar que a produz, ou de quem é seu protagonista. Há vida antes e depois do click.
A fotografia é uma fatia do tempo e do espaço, que olha pra gente.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Na tabela periódica do amor
Por que a química é tão importante, a ponto de vir antes do amor? Por que o amor pode ser um engano, mas a química tem que ser perfeita?
O amor, às vezes, começa antes da química chegar, mas por falta de paciência, ou tolerância se cancela a oportunidade, porque "sem química não dá". Assim, o sexo vem antes do beijo, o desejo do amor, a excitação da saudade. Não há preliminares pra haver uma história. Não se paquera, flerta, azara, sonha, nem dá tempo de se ter vontade. Primeiro se olha, se pega e se der até se pergunta o nome.
Na tabela periódica da química, não consta nenhum elemento chamado amor. Se esquece a importância da côrte, do conhecimento, do poder sedutor da lentidão, da vagareza da conquista em doses suaves. Não se permite a progressão necessária e não se respeita o ritmo que cabe entre um e outro.
É tudo na base do 1,2,3 e já. Pula-se em cima do outro, atropela-se os melhores momentos, porque é imprescindível vir primeiro o sexo, o poder de satisfazer e ser satisfeito com a casca, o fora, com a emergência da pele. Depois fica-se sapecado, descascado, ardido, mal amado, condoído, por falta de preparação do terreno e reconhecimento do território.
E o amor? Ele não vem. Não tem oportunidade de chegar, já que o desejo de ocupar-se com a satisfação das vontades é maior. Até os animais nos ensinam a dança do pré-acasalamento, mas somos humanos demais pra apreender.
A pressa estraga o amor. Ele precisa ser tocado com as pontas dos dedos, adivinhar os cheiros à distância, imaginar o sabor de saber os lábios. Pra amar tem que frequentar a sala de espera, sentir a convivência e construir possibilidades, feitas de adorações concretas: O vento nos cabelos, o sorriso torto, o jeito de sentar, de mastigar o chiclete, de desembrulhar a bala. É preciso estudar o ser que se ama, como um objeto efetivamente afetivo que se admira, pra descobrir o amor.
O amor vem aos poucos, gole à gole, toque à toque, olhar à olhar. Ele não está no breve e rápido abrir e fechar de pernas, mas em degustar como o outro caminha, cruza os braços, protege os pés.
Namorar é isso, até se descobrir que se está enamorado, querendo chegar perto. Confirmar o que foi construído passo a passo num abraço, num beijo...se entregar por amor, deixar-se tragar pelo amor, sem estragar o amor. Render-se apenas a fraqueza da carne, é negar-se forte para viver o amor.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
Boca de cena
Gosto de usar batom. Eles sublinham minhas palavras.
É o meu marcador de textos pessoal. Transferível, apenas, a quem queira entender a minha língua, roubando o sentido interdito das palavras, que engulo. Se não há batom, elas ficam grudadas no céu da boca, esperando o desenho resgate, para não virarem estrelas.
Se quero despejar o que sinto com violência catártica, uso batom vermelho.
Se preciso dizer que amo, pinto os lábios de rosa.
Se o discurso deve ser sedutor uso gloss ou brilho, pois deixam as palavras penduradas nos lábios, o que torna a fala lenta e sensual.
...mas se o texto que pede pra sair é decisivo e definidor, coloco um cor de boca, pra que flua naturalmente, sem rusgas, dobraduras, subterfúgios, falsidades desnecessárias.
O batom emoldura meus dizeres.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Curva do C
Quando tiver alguma saudade
sente o cheiro do vento
que carregou na tempestade
diante do mar de amar
apalpa o calor do sentimento
na pele de tudo que levaste
perseguindo um pressentimento
de que nunca mais haveria
toca cada coisa pedindo perdão
por não ter tocado a música
no nosso mambembe violão
lembrando do que esqueceu
folheia o passado da curva
e mergulha no vazio-cheio
de esperança cor de chuva
e balança no ir e vir literário
volta na paisagem azulada
nós: pescadores de haicais
no vinho da madrugada
e no que deixou pra trás
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Compotas de amor
eis o nobre sentimento
Bukowsky o trivializa
no jogo dos sete erros
busca-se acertos
pela janela do sentir
bebe-se a fragrância misturada
nas noites avessas e travessas
As faces maquiadas
ou nuas
desse imortal cárcere-libertador
atravessam vidas
dominadas pela paixão, a vaidade,
admiração, esperança
o sofrimento de Justine de Sade
A Noiva de Lammermoor de Scott
Beatriz, Divinéia, Julieta, Heloísa
sob a insígnia do divino mestre dos sentidos
suavidade do amor e sua loucura
voltam e revoltam
e continuam
almas ternas
alimentadas pela audácia de amar.
As côrtes e os cortes
tecendo oaristos madrigais
seguidos momentos de secura
delicadezas naturalizadas
amor à la Werther
A beleza embrulha-se no tecido
da verdade inventada
feita de amores: docemente cruéis
embriagados de silêncio
ouvidor da falta
da força de falar
comporta apostas
no peso leve das palavras
que o amor indefine
em tudo ou quase nada
ser amado/ amar
morre nesse instante
da generosidade suave
de uma colherada azeda
derramada pelo desastre:
sem saber provar sabor
pelas prateleiras poéticas:
compotas de amor
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