sexta-feira, 3 de maio de 2024

ternura

Sou a raiz do invisível

que brota depois da chuva

e insiste nos temporais...

Estou escondida no igarapé

fico retida nos bambuzais


A margem dos eitos dos rios

água parada sem fluir

engolida pelos desvios

sempre ensaiando parir

no vento de assobios


Gero e potencializo a vida

até arreebentar as paredes

no inverno sou força encolhida

tecendo infinitas redes

o silêncio a voz intimida


há revolução na primavera

rompe-se a calada alegria

flores de desejos e palavras

explodem em cores e sinfonia

de fruta amadurecida em eras


semente da polpa no chão

abraçada pela natureza

enraiza o outono em vão

cavando a profundeza

do  grito debaixo do não

onde a vida está presa


Guardando a liberdade

no tempo feito de tecer

a escuridão e a verdade

fazem teia de florecer

que a natureza mais tarde,

 só a raiz poderá ver.

 

vaidades invisíveis

 Querem estar, aparecer, ostentar

ser revelação especular

 obtusos balançam na rede

obvios se lançam


invenção de pique esconde

grita-se: Lá vou eu? E onde?

A voz dubla a personagem

escondida na garagem


Sem máscara nem rosto

foto des_botada, sem cor

é um sabor sem gosto


do que posta o impostor

é dessabor e desgosto

olhos cegos de ardor 



temporada

Fico no tempo

a entender

como o tempo fica ...?!?


Se segue

não permanece,

logo não estanca.


entre ponteiros ,

calendários

ele vaza

pelas fronteiras

 dos momentos

.vivemos

enchendo cântaros

num temporal

numérico

que não sabemos carregar.

libertação

A escrava

escreve

em mim

escrita

liberta

crava 

criva

asas feitas de correntes

de águas vivas 

mastiga os cravos

Brava:

_Bravos, estou viva!

Ciranda

Minha infância brinca no vento

faz balanço suspenso no ar

rodopia até a brisa

soltar do redemoinho o Saci

faz pipa lamber marimba

debochando...

e o céu se abre

sobre o viveiro do canto dos pássaros

_ dentro de mim há uma dança livre