Domingo à tarde, tento encontrar referências da minha identidade,
para continuar lutando, nestes tempos difíceis. Resolvo assistir um
filme que aluguei, pois ainda vou à locadora(sou dessas...) .
Desligo meu toca discos, silenciando Jane Joplin e começo a ver: As
Sufragistas. Este longa trata de uma reivindicação histórica de
mulheres pelo direito ao voto, na Inglaterra de 1912.
Eis, que quando ocorre a cena de uma enorme manifestação destas
admiráveis mulheres de vanguarda, começa um enorme barulho embaixo
da minha janela, que dá pra avenida principal do bairro que moro. No
entanto, enquanto o filme quer democratizar o voto, na realidade da
minha janela há um movimento a favor de um candidato perfilado como
direita, autoritário, empoderado pelos empresários por querer
contribuir contra os direitos adquiridos dos trabalhadores(as), que
julga e desrespeita as mulheres inferiorizando-as, como acontece no
filme. Assim de repente vejo movimentos paralelos e divergentes
ocorrerem simultaneamente, diante dos meus olhos.
Dentro de mim cabe um silêncio de indignação tamanha, que fico
paralisada com a obviedade da contramão da democracia regida por um
grupo que invoca gritos das mulheres de que apoiam o candidato:
_
Cadê as mulheres ???? Convoca o locutor. Elas respondem orgulhosas
por aquele que as despreza:
_
Ele sim!
Estarrecida continuo tentando dar conta do acontecimento, fico
envergonhada, olhando para a luta das sufragistas.
Diz um ditado popular: Pior cego é aquele que não quer ver. Em
tempos de óculos escuros, ver o sol pra que, não é mesmo? Enquanto
observo as duas pontas do tempo: passado e presente, imaginando o que
será do nosso futuro. É difícil sobreviver nesse barranco de
cegos, quando se percebe o desmoronamento desenhar-se, sufocando e
aterrando um passado de lutas democráticas, para o enaltecimento do
autoritarismo sem limite, que permite a um candidato a presidência
da república ofender gênero, etnia e a diversidade sem nenhuma
intervenção jurídica, estimulando o ódio e a violência como
oposição aos que pensam diferente e defendem os direitos humanos e
a democracia.
O pior é que os apoiadores deste candidato auto intitulam-se
patriotas, defensores da moral e dos bons costumes, considerando que
são pessoas de bem, a favor ao armamento da população e
desrespeito as minorias. Abrem mão da democracia, a fim de serem
comandados.
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