Ela não usava roupas com botão, por isso sempre que ele ouvia o barulho do zíper entendia que seria abandonado.
Um dia por semana havia uma saída surpresa que ele acompanhava com os olhos silenciosos até a porta e seguia pela janela enquanto a alcançava pela esquina.
Nunca perguntava onde ela ia, nem mostrava expressão que o mostrasse perturbado. Assim ungido de aparente serenidade, urrava aos prantos por dentro.
Ele nunca sabia quando ficaria só, se a noite, ou em pleno dia e não havia nenhum presságio ou indício que permitisse intuição sequer sobre o episódio misterioso, mas ele nunca quis saber o que ocorria de casa pra fora.
Entretanto, nada o incomodava mais que o barulho do zíper, nem mesmo o bater da porta, quando ela saía. Por isso, numa manhã de sábado em que sozinhava, caminhando pela casa, tomou uma decisão: recolheu todas as roupas dela e retirou cuidadosamente todos os zíperes.
Ela sempre voltava sem fazer ruídos, mas naquele dia ela deu um grito, quando chegou e encontrou todas as roupas caseadas e com botões sobre o cadáver de dedos furados por agulhas.
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