Eles começaram essa obra, pra manterem o sentido e a direção do silencioso pacto que nasceu na epifania do primeiro olhar. Assim, quinzenalmente saiam de suas rotinas, lares, famílias e partiam para a construção da estrutura e manutenção dos telhados de casas pré-moldadas no lado mágico das águas limpas de culpas.
Tomavam benção as mães no domingo, dormiam sob expectativas e beijando suas esposas e filhos, partiam para o encontro inevitável, desejado, onde de asas abertas abraçavam-se àquela circunstância sempre única.
Eram comprometidos a realidade daquele momento esculpido em pensamentos e sonhos que antecediam a fuga madrigal.
Tudo era planejado em detalhes rococós. Combinavam até mesmo a harmonia das cores com que se vestiram, as frutas que comeriam e o calendário lunar, faziam o mapa astral naquela semana, jogavam búzios, liam borra de café e, no domingo que precedia o evento, iam a missa e confessavam suas intenções, rezavam o terço, pra poderem usufruir da infidelidade em paz.
Compravam passagens em poltronas próximas. Durante a viagem olhares oblíquos, ciganos revelavam: Beatriz e Abelardo, Romeu e Julieta, Capitu e Escovar, Rita Baiana e o Portuga, Iracema e Martins, Brás Cubas e Helena, Nero e Roma. Nada calava os dizeres preliminares na quietude daquela condução, cujo motor barulhava a quentura de seus corpos, latejando o coração.
Quando fechavam os olhos previam os acontecimentos e faziam a "caminhadura" até o flat de palha na praia da deserta reserva. Naquela semana longe de tudo, encostavam-se no céu, atravessando a fronteira com Caronte: eram livres em arquiteturas tecidas sobre telhados que os protegiam dos pelourinhos do julgamento, num altar de amor chamado Pasárgada: Ilha do imponderável.
Voltavam sempre às sextas feiras em via crucis, sem se encararem durante a viagem, passando uma borracha de invisibilidade e nas memórias, pra retornarem o desenho dos personagens que não eram, mas reproduziam numa sociedade castradora, que os engoliam, até o próximo capítulo.
Escreviam o roteiro daquela vida de palco e máscaras num novelo que tinha as cores do arco-íris numa película preto em branco.
Gostei muito da ideia do contravento.
ResponderExcluirCriativo!
Belíssima postagem.
Sou seu antigo seguidor e venho convidá-la para analisar junto com todos essa nova onda do OLD MONEY exposta no nosso blog FALANDO SÉRIO.
É a grande ferida da sociedade, um verdadeiro tapa na nossa cara.
Se puder comente.
Um abração carioca.
Saudades, Paulo! Spre bem vindo.
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