domingo, 10 de setembro de 2023

Escapes



   Ela não usava roupas com botão, por isso sempre que ele ouvia o barulho do zíper entendia que seria abandonado.
    Um dia por semana havia uma saída surpresa que ele acompanhava com os olhos silenciosos até a porta e seguia pela janela enquanto a alcançava pela esquina.
    Nunca perguntava onde ela ia, nem mostrava expressão que o mostrasse perturbado. Assim ungido de aparente serenidade, urrava aos prantos por dentro.
     Ele nunca sabia quando ficaria só, se a noite, ou em pleno dia e não havia nenhum presságio ou indício que permitisse intuição sequer sobre o episódio misterioso, mas ele nunca quis saber o que ocorria de casa pra fora.
   Entretanto, nada o incomodava mais que o barulho  do zíper, nem mesmo o bater da porta, quando ela saía. Por isso, numa manhã de sábado em que sozinhava, caminhando pela casa, tomou uma decisão: recolheu todas as roupas dela e retirou cuidadosamente todos os zíperes.
   Ela sempre voltava sem fazer ruídos, mas naquele dia ela deu um grito, quando chegou e encontrou todas as roupas caseadas e com botões sobre o cadáver de dedos furados por agulhas.




ventana

Janelas abertas pelo vento
sopram noticias de longe
Sobre oceanos 
Há nuvens dissipando 
o embaçado olhar
Bocas sorrindo esperanças
Lá vem ela:
A vontade de viver outra viagem e aventura
Colhendo do vento as palavras.