Imagem: Claudia Lemos
uma sombra perdida
numa caverna
um súbito grito preso na garganta
a luz contida nos olhos nunca abertos
Tentou alcançar uma lanterna
o canto entoou uma nota tanta
a manhã buscou olhos despertos
a pele da alma ressentiu a caridade
as noites longas sem nenhuma estrela
e a falta de um carinho de verdade
imperdoáveis razões para não tê-la
confesso o silêncio dilatava
a covardia de levá-la a sofrer
enquanto o corpo pleno suava
a maldita arte do desfazer
mentira tamanha esboçou
no desenho intravenoso
o tinteiro uma lágrima chorou
na tela um poema pedregoso
o barco desafiando o mar
em torno de uma ilha de promessas
e todo talento de enganar
nas águas velhas imersas
tranquila foi a volta
para quem tinha a espera
pra quem ficou na revolta
a indomável megera