terça-feira, 7 de junho de 2011

O co(r)po

Seu corpo, impresso no copo,
em pontas de dedos,
digitais que reconheço pelo cheiro.
Aroma de demora...de talvez.
Identidade visível pelo gosto impregnado
na forma dos lábios
selando a boca do corpo.
Desde que foi, na borda empoeirada é silêncio,
sobre o aparador, apontando prá porta.
tudo é digital desenhada na memória,
desfeita nas marcas da sua fugaz ausência,
sempre presente.

E o corpo do copo é você:
cheio de nada, vazio de tudo.

Uma instalação de vanguarda: um absurdo
que há porque inexiste.
Um ser de transparências feito,
sem nenhum efeito.
Está eternamente,
por ter partido
e é por não ser,
ou quem sabe,
nunca ter sido, ou ficado.

Na fotografia do tempo,
o seu adeus tatuado
na imagem do co(r)po
abandonado num canto.
Rastro de Curupira
invertido prá dizer que foi,
quando nunca saiu daqui.

Ainda bebo dessas lembranças,
sentindo o improvável gosto acre-doce
da desilusão em goles secos
de saudade do que não houve.

2 comentários:

  1. Claudia, o que dizer!?
    Lindo!
    Lindo demais!
    Um beijo.

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  2. Este é o segundo texto que leio esta semana e tenho uma estranha sensação de ¨lindeza¨...
    Leia:

    http://walkyria-suleiman.blogspot.com/2011/06/luto-2.html

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