Para o meu amigo Raul:
A sozinhez (esquece esta palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. "A porta do poço!". Só as criaturas humanas, nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados, conseguem abrir uma porta bem fechada e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Paulo Mendes Campos
Lembro o meu olhar sozinho, procurando
alguém, quando eu nem sabia o sentido de estar sozinha. A casa cheia.
Um entra e sai típico de casa popular. Todo mundo queria fazer parte da
minha família. Éramos sete em casa: Papai, mamãe, meu irmão mais velho, minha
irmã, meu irmão do meio, eu e meu irmão caçula. Um monte de gente frequentava
nossa casa. Eram vizinhos próximos, mais ou menos próximos e distantes.
Nossa família de longe aparecia de vez em
quando. Nossos consanguíneos não pareciam querer fazer parte de nosso clã, como
àquelas pessoas carentes, que chegavam lá em casa afirmando: _ Queria ser seu
filho (a), ou seu irmão ou sua irmã, porque até quando vocês brigam é maneiro.
Eu observava esse movimento e, às vezes, me pegava buscando o sentido
dos detalhes. Existia uma cortina estampada, bem colorida, entre a sala e a
cozinha, que insistia em fazer a fronteira entre dois mundos: a parte da frente
e de trás da casa. Tudo era duplo. A cortina separava os outros e a gente, mas
eu gostava de me enrolar na cortina e ficar naquela fronteira tênue, entre o
meu mundo e o mundo dos outros.
Foi ali, naquele paralelo, que descobri que a verdade é dupla. Meu
caleidoscópio particular já sabia disso. Tudo se construía e se desfazia, em
meus olhos, principalmente as lágrimas, pois eu chorava muito bem. As vezes
usava a cortina como lenço, só me enrolava nela pra torcer as lágrimas.
Veio o tempo: esse arrastão e comeu nossa infância, nossa adolescência,
nossa vida adulta e toda impermanência. Azedou o relógio, o calendário.
Despetalou-se a vida dentro da ampulheta. E eu lá contemplando o mundo e a
vida.
Sempre fui só, na minha, gostando de um cantinho, pra encostar minha
cabeça. O tempo nunca fez chamada pra conferir minha presença. Simplesmente ele
passou, deixando seu recado: _Enfrente-me, mas considere-me seu aliado.
É nos olhos que o tempo passa mais depressa, neles são construídas as
marcas de sua passagem. A solidão é essa consciência de tudo que existe em
torno, em volta, fora e que olha pra gente, enquanto a gente se olhar.
Quando a solidão veio morar comigo, eu nem tinha casa. Havia, apenas, o
desejo de morar, em algum lugar, onde eu pudesse fechar os olhos e enxergar sua
presença dentro de mim.
Essa companheira, a solidão, nunca me deixou só.
O nós e o mundo.Um olhar expressivo sobre a solidão e o tempo.No final estamos sempre muito sós, embora muitas vezes cercados de gente.
ResponderExcluirUm prazer passar por aqui.
Beijos e boa semana.
Adorei, Claudia! Confesso que sou mais apaixonada pela prosa do que pela poesia, então acabei me identificando mais com esse texto.
ResponderExcluirQuando tiver interesse, meus blogs são:
http://letras-distantes.blogspot.com.br/
http://bella-fowl.blogspot.com.br/
Beijos,
Isabella
Maravilhoso professora !
ResponderExcluirdepois de tato tempo consegui achar seu blog e realmente me surpreendi ,gostei demais ! parabéns pelo seu trabalhho