domingo, 20 de maio de 2012

O âmago do azul

Estou me fazendo. Eu me faço até chegar ao caroço.
Clarice Lispector













 Só, a liberdade sopra no outono das palavras,
que têm a fatalidade em si mesma.
A ventania me chama.
O erotismo telúrico chega vivo,
espalha-se no ar, nas águas, nas plantas, em nós
e da-me essa voz, encharcada de um vigor de tronco robusto,
de raízes entranhadas na terra viva,
que traz em ti.
Respiro a noite alta e o estranho me toma.
O mundo por um instante é exatamente
o que pede o meu coração.
Estou prestes a morrer-me
e as palavras certas me escapam.
Essa força interna 
- que faz brotar cada dia -
me libera.
Na morte do que não sou,
que na sombra não se revela,
a vida plena transborda.
O mundo tem a crueza nua dos sonhos livres
 e das grandes realidades.
Não conheço a proibição
e na madrugada pálida e arfante,
tenho a boca seca diante do que alcanço.
A minha natureza liberta de tudo
e eu morrendo.
A palavra final
veste-se de uma certa sabedoria
da fatalidade.
Ponho o diadema de pedras
retiradas das tuas doces grutas
e sigo...
A manhã resvala, em nós, distâncias.
O diamante me ofusca, me apaga,
me esquece.
Vou fazer um adaggio: Nascer é assim.

2 comentários: