Baudelaire erigiu a efígie sagrada da beleza em oposição ao feio mundo da burguesia. Para a hipocrisia vulgar e para o esteticismo anêmico, a beleza é uma fuga da realidade, um quadro digestivo, um sedativo barato; mas a beleza que se ergue da poesia de baudelaire é um colosso de pedra, uma truculenta e inexorável deusa do destino, tal como o anjo da ira empunhando uma espada de fogo: seus olhos faíscam e condenam um mundo, onde triunfaram o feio, o banal e o inumano. A pobreza disfaçada, a doença oculta e o vício secreto não podem deixar de se revelar em face da sua nudez radiante. É como se a civilização capitalista fosse trazida ante uma espécie de tribunal revolucionário: a beleza conduz o julgamento e pronuncia e seu veredicto, escrito em linhas de aço temperado.
Ernest Ficher
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