Vem uma criança, entrando de rompante pela porta da frente, expulsando o adulto pela entrada dos fundos. Saem pernas curtas e sem medo de riscos, correndo de dentro de casa pra rua: pés-no-chão da alegria. Mãos maestram as cores dos brinquedos-imaginários, processando a magia da liberdade.
Goza-se o prazer do olhar ingênuo e dentro dele uma vontade de viver e comer todos os doces, oferecidos pela guisa-levada de vitrines inacessíveis das vendas, doceiros e quituteiras. Mastiga-se a gula entre sorvetes e pipocas, cachorro-quente e mariola. A boca sempre lambuzada, as solas dos pés com cor-de-chão e os olhos aprumados ao céu, voando com as pipas-asas, desviando-se das marimbas.
Os joelhos arranhados, machucados, tatuados pelas aventuras - descrição de travessuras. Cotovelos escurecidos de apoiar-se, para desafiar a gravidade, ver o arco-íris, ou o outro lado do muro. E, de soslaio, um olhar atento voltando-se sempre ao portão de casa, a espera de um grito sair pela porta em convocação para o retorno ao porto-seguro (proteção do Ser infante em regras e regimentos), quartel que cozinha o adulto que será.
Se há chuva e lama, a alegria encharca o corpo, pra ser sovado, depois com palmadas ou castigos, ao penetrar a casa-adulterada limpa, todo sujo de molecagem, de estrepolia cheio e inflado de coragem.
Banho tomado, lanche na mesa e a espera do pai, transformam a criança que foge e se esconde sob a mesa, para surgir o poeta, personagem nascido da acuidade materna, na representação de costumes. Num reflexo simultâneo, entra o tutor familiar pela porta de trás, sempre entre-aberta, a fim de espreitar a criança escondida em textos , que constroem contextos de fuga. Olhares severos guardam-na e aguardam para o combate, caso outra criança queira pulsar, no meio da sala de estar.
Adorei o Blog. Poesia aqui anda solta...ao vento. Prazer-poesia!
ResponderExcluir