terça-feira, 11 de junho de 2013

"Quem não tem colírio,usa óculos escuros..."

 ...olhos ateus
cria esperança
nos olhos meus
de verem um dia
o olhar mendigo 
da poesia
nos olhos teus

Vinicius de Moraes



                                           foto: Claudia Lemos 

          

   Qual o olhar de Bentinho diante dos olhos de ressaca de Capitu? Que expressam os olhos de Julieta ao contemplarem Romeu morto na câmara fria? Que caminho fez o olhar, de Dom Quixote dentro dos moinhos de Dulcinéia?  Como ficaram os olhos livres de Oswald de Andrade, quando encontrou Pagú?  Quantos olhares cabem no Barranco de Cegos de Alves Redol? Ou no Ensaio da Cegueira de Saramago? Quantos olhos atrás do óculos do homem de bigode de Drummond, em Poemas das Sete Faces? Qual o movimento, pela última vez, dos olhares empedrados pela Meduza? E os olhos de Sthendal ao ser apresentado a Matilde Dembowski? Como olhava Vinicius as suas futuras esposas?Com que olhos Diadorim despediu-se de Riobaldo? Que olhar sedutor dava poder a Nega Fulô?
     Quantos olhares nossos olhos atravessou? E na travessia de olhares, o que lê nesses olhos o seu olhar leitor?

     Cegas retinas, diante da ótica calidoscópica do amor. A cavernosa solidão do sentimento platônico abandona o acalorado descaminho da chama, tornando-se cego, num olhar apagado pelo encontro dos olhos com a descoberta dos seus próprios olhares alhures.





     
 


   
   

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