sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DE VIVER




As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade.
Victor Hugo

  Entre os versos de Cazuza:
Vida louca vida
Vida breve
Já que não posso te levar
Quero que você me leve(...)
E  Zeca Pagodinho:
Deixa a vida me levar
Vida leva eu(...)


   Reescrevo V. Hugo: Viver tem a leveza do vento e a força da tempestade. Relembro o romance de Kundera: A Insustentável Leveza do Ser e teço uma costura entre tudo que isso é e o que há:

 Pelo fato da vida ser, relativamente, tão curta e não comportar “reprises”, para emendarmos nossos erros, somos forçados a agir, na maior parte das vezes, por impulsos, em especial nos atos que tendem a determinar nosso futuro. Somos como atores convocados a representar uma tragédia (ou comédia), sem ter feito um único ensaio, apenas com uma ligeira e apressada leitura do script. Nunca saberemos, de fato, se a intuição que nos determinou seguir certo sentimento foi correta ou não. Não há tempo para essa verificação. Por isso, precisamos cuidar das nossas emoções com carinho muito especial.

    O filme A Viagem (em cartaz nos cinemas) - dirigido por Andy Wachowski, Lana Wachowski, Tom Tykwerdo mesmos autores de Matrix e Corra Lola Corra - reafirma que o passado, o presente e o futuro refletem os crimes e generosidades que praticamos. Assim, deixar-se levar pela vida pode ter a leveza da consciência, sob o signo da generosidade, ou o peso do crime.
    Entenda-se crime tudo o que praticamos não só contra o outro, mas contra nós mesmos e por generosidade todo o bem que faz bem.
    A recompensa natural do bem torna leve o julgo. Quem flutua na leveza da vida não sofre com as maldades, porque afinal de contas o mal que nos fazem não nos faz mal.
    No final de cada caminho somos sozinhos, para medir o peso do que vivemos. Lembro, então de M. Quintana:

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves
 são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
Leveza
estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

    Na balança da consciência cabem todas as intenções, vontades, semeaduras que realizamos em nosso jardim coletivo ou particular. Creio que muita gente morre por falta de leveza, de levar, deixar-se levar. Determinamos o peso das correntes que queremos arrastar.

O mais pesado dos fardos nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos esmaga contra o chão. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.
Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificante. (A insustentável leveza do ser - A leveza e o Peso)

    O que carregamos define a profundidade dos nossos passos no chão ou desenha as asas da liberdade de sermos levados pela vida.  Assim tecendo levezas encontro as palavras de C. Meireles:
Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.
E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.
E o que se lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.
E o desejo rápido
desse mais antigo instante,
mais leve.
E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.

    A palavra nomeia a massa que carrega: pluma, asa, passarinho, folha seca, pipa avoada, brisa, vento, carinho, afago, toque, sorriso, generosidade, esperança, mas a que não tem peso e nos liberta é a  palavra LEVEZA.

Um comentário:

  1. "Viver é desenhar sem borracha." [Millôr Fernandes] > http://portfolioraulmotta.blogspot.com.br/2011/10/viver-e-desenhar-sem-borracha.html

    :-)

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