quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Na esquina do pecado



  À moradora de rua, rabiscadora de infinitos cadernos...







   Meu quarto não é azul, nem há sombra das persianas, muito menos noites vazias.
   Eu durmo em minhas calçadas particulares, entre olhares. Essa gente é voyeur da miséria alheia - que também é minha- , para se sentir são e salvo.
  Meu telhado não é de vidro, é concreto de realidade, sou um não-ser exposto. Evacuo num buraco, como todo mundo, sem margem pra me amparar, sem contornos, ou abraços.
  Tenho um corpo cheio de cicatrizes e uma cabeça cheia de histórias tristes demais, pra interessar a alguém.
  Minha liberdade está acorrentada a ser livre demais. Não tenho ninguém por mim, comigo ou para cuidar.
  Minhas mãos desocupadas são grossas e frias, desocupadas de cuidados, rabiscam sem escrever nada e não conseguem esculpir nenhuma beleza, elas só servem para cobrir meu rosto da vergonha de caminhar entre o meio fio e a marquise, diante dessa gente que passa e barulha um tique-taque em seus olhos, anunciando toda manhã...que: meu quarto não é azul, nem há sombra das persianas, muito menos noites vazias.


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