segunda-feira, 4 de março de 2013

A margem das telas





    Na fila do cinema, logo a minha frente, observo um casal curioso: o neto e a avó. Ele uns 13 anos, ela uns 78 e ambos conversam sobre vários filmes, atuações, direções, como dois profundos especialistas. Não há perguntas , somente conclusões. Ele fala espalhando os braços, ela segura as mãos pacientemente a ouvi-lo.
     Surge, entretanto, um momento em que o menino esquece o nome do comentarista da premiação do Oscar, o que a avó prontamente lembra. Neste momento, o menino pára, olha interrogativamente a avó e sofismático faz o seguinte comentário: _Você não viu, só ouviu o Show do Oscar, vó, eu que fiquei lá até de madrugada não guardei o nome do comentarista?!?! É...Vocês são a memória  do que não vemos, não ouvimos, não sabemos. A memória que nos falta.
    Continuei, namorando a cena, enquanto a entrada foi liberada. O neto encaminhou, carinhosamente, a avó pela labiríntica entrada da sala de projeção. Ele dava apoio pra que ela  subisse os degraus, quando ela sorriu e afirmou: _ Cuide bem de sua memória e dos seus joelhos. Ele respondeu, balançando positivamente a cabeça: _ Eu cuido, vó. Eu cuido, porque aprendo isso todo dia com você.
    Sentaram a minha frente, silenciosamente, aguardando o começo do filme.
    Após a última cena, acesas as luzes, o menino orgulhoso da avó a elogiou: _ Nossa! Tudo lindo, como você contou. Esse tal  Víctor Hugo cuidou da memória de todo mundo, nessa história, pra ninguém ficar de joelhos.
    Cenas assim alimentam e eternizam clássicos como Os Miseráveis e o  final de um domingo.

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