sexta-feira, 20 de maio de 2011

Prá (não) SER...

          Notava lágrimas correndo por trás daquele olhar, que vinha em minha direção; Havia naquela expressão, aparentemente insensível, um choro contido, um grito denso e ocluso. O seu jeito de caminhar firme e sempre em frente revelava, que não brincára de amarelinha e suas mãos trazidas próximas ao corpo, num movimento de proteção, pareciam nunca terem sido estendidas numa ciranda de rodas.
           Até a paisagem tornava-se enrijecida com a sua presença: Não ventava, não chovia, o sol não brilhava, nenhum raio se anunciava, nada acontecia. Somente Ela, num movimento retilíneo, que nos paralizava, tecia um monólogo com seu próprio silêncio, impregnando nossas tardes.
            Sua altivez, proporcional àquele soberano corredor, só seu, se estendia de uma ponta a outra por um tapete imaginário, tingido com sua cor predileta - Cinza Chumbo - prá Ela passar.
            Depois, que atravessava a nossa vida, invadia nossos pensamentos e sentidos, descongelávamos e piscávamos os olhos quando, no final do corredor, Ela tocava a campainha, que ressoava um tom de súplica, autorizando a todos nós, seus súditos, que corrêssemos, pulássemos, nos jogássemos e gozássemos o recreio por Ela.
           Cumpria sempre o seu papel, que a tornava indispensável. Nunca se pronunciava. Nada questionava. Apenas , e tão somente, seguia as regras e exigia, com sua presença, nos deter. Tementes de sermos iguais a ela,  éramos, pelas suas costas, o avesso de tudo que representávamos, diante de sua austeridade.
           Eu sempre acreditei que Ela, fora dalí, era o seu contrário, mas , às vezes, imaginava que não tinha família, nem casa, nem amigos, nem vida... que morava na biblioteca, na seção de livros de capa dura, empoeirados, despaginados,  ocos,  sem histórias prá contar - que ninguém tocava, ninguém descobria,  ninguém lia. À noite, pensava, antes de dormir, se Ela era alguém ou um personagem criado, para anunciar as tempestades nas nossas vespertinas alegrias, sinalizando, com o fim do intervalo, que tínhamos que esconder nosso prazer, nossa felicidade, em continência a sua disciplina amargurada, por um poder que a  tinha.

          Seu nome? Não lembro, porém em minha memória ficou desenhada: sem carne, nem osso, sem cheiro, nem sentimento...com Ela aprendi, como eu não devia ser. Ela foi minha melhor Escola. 

5 comentários:

  1. Quem disse que o negativo não pode ser um bom exemplo?
    Um beijo

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  2. Aprendemos mais com aquilo que nos faz mal...

    Belo, profundo, e muito reflexivo o teu texto!
    Aplausos!!!

    Deixo carinhos pra ti, viu?
    Beijos de linda noite.

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  3. Não sei por que me lembrei da D. Regina, do Sr. Jocelino, do Prof. Nobile.
    Eram tão aplicados em nos intimidar... Acho que por causa deles, ser feliz era quase vingança.


    Adorei.

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  4. Aprender o que não se deve fazer
    já é mais de meio caminho andado.

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  5. Heey :D
    Você escreve muuito bem. Parabéns!

    Fico feliz que tenha gostado do blog e da proposta de incentivo a leitura. Sempre gostei de ler e isso me trouxe momentos tão agradáveis que gostaria que todos tivessem tal sensação. Infelizmente a leitura é um hábito de poucos mas se Deus permitir um dia todos vão descobrir esse prazer :D

    Beijos e boa semana pra você ^^
    Bárbara Emerich

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