De cada lado da pegada,vi a desolação. Algo como uma construção da desconstrução: pedaços de dias inteiros de trabalho, como oferenda ao caos. As coisas boiando moribundas e silenciosas, em memória aos mortos em direção ao túmulo da lembrança.
Devíamos atravessar o Rio, ainda que na volta não fosse mais o mesmo, mas ele nos atravessou. Precipitou-se descarregando uma força vertiginosa e irresistível, transformou-se numa cascata espantosa.
Nunca mais o remanso das almas, a cabeça sorridente fora, buscando o próximo mergulho. Agora, tudo é um imenso espelho d'água cego, pois sem nenhum olhar narciso, todos perderam o pé e nadaram até a margem da última hora.
A vida se agita à deriva do fundo e fora do Rio, que é um pranto uníssono.
A voz do menino grita, atrás da frieza, que o contém, quando diz:
_ Aí mesmo, meu pai caiu e a correnteza o arrastou. Não podia ter acontecido com qualquer um?
As águas que são por natureza fonte de vida, podem ser também causa de morte e de desgraça, quando as forças se desequilibram e a tragédia se instala.
ResponderExcluirSeu texto está muito bem escrito e me tocou imenso.
Difícil resistir à natureza enfurecida.
Beijos.