segunda-feira, 23 de abril de 2012

Café amargo

     Pretextei um engano de passaporte.Seguia a esperança à distância, mas me ofereceram um café  expresso e, assim, entre um gole e outro, queimando a língua, fui notificada que devia abandonar o território italiano nesse mesmo dia.
     Meu amor pela Itália não contava.
     Apenas disseram:
     -  Nada disso. Nós estimamos muito sua presença, mas precisa se retirar do país.
     E depois, de maneira poética, de forma oblíqua, informaram-me que era necessária minha expulsão. 
      Pela primeira vez, fui obrigada a partir, sem nem sequer ter chegado.
     O coração de diamante brilhava, enquanto submerso as ruas, cavadas com as unhas feitas, meu amor sangrava silenciosamente pelos bueiros, que barulhavam a porta daquela manhã, enquanto o vento soprava a língua sapecada no café lítero-conficcional.

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