Poetinha, por que me fizeste acreditar no amor? Qual o motivo para me impregnar com teus sonetos? Devias ter criado o Soneto do Amor Fatal, o Soneto da Infidelidade e de toda gama de acreditáveis e possíveis vivências para esse sentimento, jamais ter aconselhado "Para Viver um Grande Amor", através de um título que dominou tantos corações, permitiu tantos desejos e sonhos idealizados, em torno de uma única perspectiva: Amar, que como disse Mário, é: ...Verbo Intransitivo de regência duvidosa, conjugação perigosíssima. Até no infinitivo, ele dura, Poetinha. Não se desfaz, depois de uma chuva, ou um choro torrencial, onde tentamos odiá-lo, se possível sepultá-lo.
Eu lírico pernicioso este seu cantante de lisonjas a mulher, a amada, a amante, que sempre se apaixona à mesma proporção que se despede de um poema para outro, de uma mulher para outra.
Pior, muito pior, seus poemas ensinaram aos homens a plurissignificarem o amor, e as musas a acreditarem que somente elas foram amadas, em versos e prosa.
E os sonetos, Poetinha? As musas, completamente, em suas mãos nos dois tercetos, dispensadas nos quartetos e abandonadas na chave de ouro. Egoísmo literário, Poetinha?
Seduziu-me o amor inventado, poetizado, magnético, sensual e que seria eterno, enquanto durasse...
Ah, Poetinha! Como foste docemente cruel.
Sigo, Poetinha, entre Gregório e Bandeira, respectivamente:
O amor é uma confusão de bocas
um leve tremor de artérias...
Quem diz outra coisa é besta.
....
Porque os corpos se entendem as almas não.
Quero acreditar como Paulo Mendes Campos, Poetinha, que:
Às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba…
Às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba…
Por que, não disse, Poetinha, que o amor maltrata a quem quer bem o ser que ama e que apenas nos poemas eles são eternos...? Por que não revelou que os poetas brincam com o amor?
Nenhum comentário:
Postar um comentário