segunda-feira, 16 de julho de 2012

_Traduz-me, Octávio Paz!?!


Palavras, ganâncias de um quarto de hora arrancado à
árvore calcinada da linguagem, entre bons dias e os
boas noites, portas de entrada e saída e entrada de um 
corredor que vai de partealguma a ladoalgum.

Damos voltas e voltas no ventre animal, no ventre mineral,
no ventre temporal. Encontrar a saída: o poema.

Obstinação desse rosto onde se quebra meu olhar. Fronte
armada, invicta, diante de uma paisagem em ruínas, à 
busca o assalto ao segredo. Melancolia de vulcão.
(...)
Arrancar as máscaras da fantasia, cravar uma lança 
no centro sensível: provocar a erupção.
(...)
O tempo se abre em dois: hora do salto mortal.

(in: de Águia ou Sol, Para o poema - Pontos de Partida)

A palavra desamparada, sobressaltos tentam dizer o silêncio, só terraços devastados, o muro da tua casa: impossível de saltar, entre estrofes, versos apoéticos nos olhos cegos de mim, a palavra pela metade, dentro e fora, segura pelo rabo, enquanto a pálpebra de minh'alma treme, sob o vento, a onda, desbotando o desejo contido entre o fundo do mar e as estrelas, deserta-se o poema, cartão postal de um vulcão em cinzas, apaga-se o sorriso, no mar de sal o sol cega os sentidos.
As palavras não sentem o vento de punhais, rasgam a última lava, tocada pela guilhotina do adeus.

Contra a água dias de fogo.
Contra o fogo, dias de água.

(in: Sementes para um hino - Calendário)

Deixo minhas palavras na fronte pura do mar, o poema sem rosto, as ondas formando lagos, nas sombras detrás de tua sombra: nadificando, arrastão no nosso barco-poema, recusando o cais, a escritura riscada nas águas, sem deter-me a margem, sinto o frio da solidão molhada em versos de aura seca, evaporo e te encontro em condição de nuvem, chovendo silêncio na tua face.


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