Para o menino de Iraquara - que virou poesia.
Há. Entre o eterno afago que teus olhos trazem e tuas mãos renegam existe a fronteira, o contorno que deforma, desfaz, decompõem a imagem-abstrata, concretizada na transpiração dos teus sentidos sem direção.
As montanhas cartesianas assistem a tua paisagem pulsando inconsciências, vastidões desconexas dos vulcões, em emanações perfumadas dos desejos que escorrem dentro de ti.
O mar, espelho da criação, diluído pelo vento, ampara no colo tuas profundidades e te absorve em superfícies, na pele do sol.
Contraventores teus dedos recusam o alcançável pelo infinito, revelando na escrita a caverna platônica, deveras poética, que brotam nas sombras de tuas mãos-fronteiras, acenando palavras em sinais rupestres do teu ser.
Descontínuo o poema cresce nas entranhas de ti, se estica na seda dos sonhos e se escreve, numa convulsão delicada e incontrolavelmente insana, que pulsa nas entrelinhas.
Desenrola a língua, lambe a boca da poesia - essa devassa virgem - e engole em contemplação o caos causado pela falsa ordem, instalado nas prateleiras emoldurando uma Monalisa pintada por Miró, onde os olheiros não percebem uma paisagem que te observa estranho, refletida em teus olhos, sem alcançar a tua beleza: interferindo na simplicidade cega de ti.
Já não há. És.
*Apropriação literária do título-reflexão de um conto de Machado de Assis.
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