Quando minha filha, aos 10 anos,
fez-me esta pergunta, pensei que fosse ter dificuldade para respondê-la, mas
eis que de súbito eu a respondi:
_ Pelo mesmo motivo, que sou mãe, minha filha,
por amor. E ela insistiu:
_Amor igual ao que tem por mim?
_Não, amor por educar,
dividir experiências, conhecimentos, aprender e errar, tentando acertar. Juntar
o que eu aprendi, com o que eu sinto, acredito, detesto, evito. Sensibilizar... é isso. Quem vai ser
professor, quer ser um tocador de almas, por isso entendo essa profissão (ou
missão) como um sacerdócio, ou simplesmente como uma afinação de
instrumentos, pois: “...viver é afinar um instrumento de dentro para fora de fora
pra dentro”.
O professor é um ser humano
comum, cheio de dúvidas, problemas, medos, insatisfações, mas, simultaneamente,
temos o que outras profissões talvez não tenham, por subestimar o contato com o
outro: a visão da construção e da evolução do aluno que atravessa pelo
corredor menino, menina (imaturos independente da idade) e de repente, nos
cumprimenta como um homem ou uma mulher (prontos para a luta). Trabalhamos com o
tempo, usufruímos dele e podemos observá-lo com o mesmo carinho, que um pai ou
uma mãe observa o seu rebento crescer, florir, dar frutos. Temos a sensação de
que nossos alunos nascem de nós, não saindo de um útero, mas das cavernas da
insegurança, dos becos dos descrédito, das grutas da indiferença, ou,
simplesmente, da leitura de um livro, de um texto, ou daquela pergunta (Ah!
Aquela que esperamos três anos, que ele fizesse). E daí nosso rosto, antes
mesmo de respondermos, dispara o alarme do: _“Que bom! Ele conseguiu!”
Quantas provas incompletas, eu
já trouxe em branco, para casa, porém com um desabafo na última folha:
“_É, desculpe-me, mas hoje não deu; _Eu estou com a cabeça cheia; _Tô apaixonado; _Meus pais estão se separando; _ Briguei com meu melhor amigo ou fui traído; _Pô, aí, não deu Prof, Minha mãe tá doente.” E a vontade de dar um 10 dez, pela honestidade é tão grande, quanto o ciúme, ou inveja mesmo, de não ter a coragem de declarar isso, numa pauta a direção, ou no meio de uma aula, em tom de desabafo:
_“Hoje, eu tô de saco cheio!” Isso é sensibilidade. Isso é nos vermos e nos mostrarmos, como seres humanos. É preciso esquecer, definitivamente, que temos que ser produtivos, pois ninguém produz mais sentimentos do que nós e, quantas vezes, não nos respeitamos, nem nos damos o direito de dizer o que vai dentro da gente. Esquecemos ou fazemos com que esqueçam, até, que somos gente.
“_É, desculpe-me, mas hoje não deu; _Eu estou com a cabeça cheia; _Tô apaixonado; _Meus pais estão se separando; _ Briguei com meu melhor amigo ou fui traído; _Pô, aí, não deu Prof, Minha mãe tá doente.” E a vontade de dar um 10 dez, pela honestidade é tão grande, quanto o ciúme, ou inveja mesmo, de não ter a coragem de declarar isso, numa pauta a direção, ou no meio de uma aula, em tom de desabafo:
_“Hoje, eu tô de saco cheio!” Isso é sensibilidade. Isso é nos vermos e nos mostrarmos, como seres humanos. É preciso esquecer, definitivamente, que temos que ser produtivos, pois ninguém produz mais sentimentos do que nós e, quantas vezes, não nos respeitamos, nem nos damos o direito de dizer o que vai dentro da gente. Esquecemos ou fazemos com que esqueçam, até, que somos gente.
Por que ser professor? Há,
muitas vezes, uma certa ironia nesta pergunta, pela desvalorização, pelo
desrespeito e descaso, que nossa profissão vem sofrendo, ao longo do tempo. Mas
devo afirmar, que nenhuma outra profissão me satisfaria, mesmo sabendo que
nunca vou receber pelo que faço. E quiçá, nem mesmo, saber porque mereço,
outras vezes, receber tão pouco, ou menos do que outros colegas, ou que outras
profissões. Na verdade, eu já nasci professor, isso está além do meu mapa
astral ou da minha carteira de trabalho, porque eu nasci, para amar e nesta
profissão encontrei o meio de praticar esse amor. Assim, mesmo quando não tenho grana para ir a
um Congresso da minha área; não posso fazer aquele curso que tanto queria; vou
a um Sebo; compro um livro; troco uma edição velha, por uma nova; vou ao museu;
vejo uma exposição; quando sobra tempo, vou ao teatro; porque para o amor durar
é preciso ser cuidado, regado, renovado. E o amor pela profissão, assim como a
vida, parodiando Cecília Meireles, só é possível reinventado...
Por isso, eu acredito, que ainda que como
professora não tenha, muitas vezes, dinheiro para satisfazer o teu desejo,
filha, com o que quer vestir, ter, calçar ou fazer aquela viagem de férias, eu
ganho o que muito profissional, mais bem pago, não ganha, tento investir ou
revestir de vida, conhecimento e sensibilidade todo ser humano, que senta a
minha frente, com o intuito de vivenciar a aprendizagem e com ele aprendo. Talvez
pareça pouco para os que preferem a aparência, mas é que nós, professores de
verdade, somos maestros e orquestradores da essência.
Nossa papel é interferir,
interagir, não criar os filhos dos outros, mas ensiná-los a serem criativos, diante
das circunstâncias da vida. Tê-los como filhos, significa educá-los,
prepará-los, preveni-los, não protegê-los da dor, do sofrimento, ou impedi-los
de serem infelizes, simplesmente respeitá-los, para termos deles o respeito, que
queremos que tenham por todos os que eles encontrarem pelo resto de suas
vidas.
Cláudia de Souza Lemos
Filha de D. Dora, doméstica que sonhava que eu fosse
médica e de Seu Mário , jardineiro que queria
que eu fosse Engenheira Agrônoma.
médica e de Seu Mário , jardineiro que queria
que eu fosse Engenheira Agrônoma.
Amiga Claudia, acho que o professor, que a professora assume um sacerdócio, nobre sacerdócio, diga-se. Um abraço. Parabéns pelo teu dia.
ResponderExcluirSou professor e... o texto tocou-me.
ResponderExcluirBj