Ouço Cornet Chop suey com Armstrong e em viagem no tempo lembro de O Grão da Voz de Roland Barthes. Numa semiologia da felicidade tomo em mãos o livro, presente do meu irmão caçula, quando meu corpo retorna por uma via indireta, musical. E torna-me impossível não citar uma daquelas falas barthesianas em que ele diz não haver nenhuma verdade, mas apenas uma opinião:
É no fundo, esta viagem do corpo (do sujeito) através da linguagem, que as nossas três práticas (fala,escrito,escritura) modulam, cada uma a seu modo: viagem difícil, retorcida, variada, a quem o desenvolvimento da radiodifusão quer dizer de uma palavra ao mesmo tempo original e transcritível, efêmera e memorável(...).
Sou despachada na esquina dos anos 50,40,30,20...e não quero voltar. Quero essa falta de sentido da escritura, que dá sentido a este meu escrever. As palavras criam sentidos que as possuem. E o som no fundo, soa o arranhar do tempo, numa serenidade inquieta e traduz um momento de simplicidade. Há nessa brecha uma vagueza infiel que permite a pele o arrepio denso, diante de um vento que bate a porta e sacode a janela, me alcançando estirada sob o relógio parado, enfeitando a parede do meu lúcido devaneio.
Armstrong e Barthes, meus companheiros deste fim de domingo, depois de uma viagem poética, são haveres infinitos...entre a ponte e o rio que dança sob meus pés.
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